Teatro Santo Estevam

A primeira intenção da construção de um teatro em Piracicaba (Vila Nova da Constituição) surgiu em 29/02/1852. Segundo ata da Câmara, o Capitão e professor Ricardo Leão Sabino, de Campinas, pediu a proteção da Câmara para lhe conceder um terreno no Largo da Forca para levantar um teatro. Apesar de atendido, segundo a ata de 7 de março daquele ano, o projeto não se concretizou. Em 20 de julho de 1853, a Câmara pediu à Assembleia Provincial a suspensão interina do artigo de Posturas que condenava, sob pena de multa, os espetáculos, ficando sujeitos só os estrangeiros que o quisessem dar, até a revogação do artigo. O assunto tratado pelos vereadores já deveria ter sido agitado na vila e, na ata do dia seguinte, já aparecia um requerimento apresentado por uma Sociedade Fundadora de um Teatro, pedindo um terreno à Câmara “… que faz frente à Rua dos Pescadores (atual Prudente de Morais) e atrás da cadeia desta Vila, para ali fazer-se uma casa para teatro. Posto em discussão, a Câmara deliberou que informa o suplicante ou marque o terreno que precisa para edificar essa obra”. Um dia após o secretário da Sociedade dar os informes exigidos pelos vereadores sobre o lugar e o tamanho da área “… cujo tamanho é de cento e cinquenta palmos de fundo, com setenta de largura”. A decisão foi adiada para outra sessão, e a ata deste dia 23 diz: “Quanto ao requerimento da Sociedade do teatro, que ontem ficou sobre a mesa, entrando em discussão, teve o seguinte despacho: deferido, debaixo das condições seguintes: Ficando a Sociedade, do seu representante, sujeita ao pagamento dos emolumentos que forem devidos, como se pagam as datas, e estas sirvam de termo de proporção, e quando, porventura, se extinguir a Sociedade, o terreno ocupado pelo teatro ficará sempre pertencendo à Câmara, e a Sociedade só poderá dispor das benfeitorias, ficando igualmente a Sociedade sujeita ao artigo 2° das Posturas de 1° de março de 1844, ficando igualmente a cargo do arruador e fiscal da câmara, demarcar o terreno pedido”. Resolvido o problema do terreno, a Sociedade iniciou a construção de um casarão modesto com telhado de duas águas, logo atrás do prédio assobradado da Câmara, onde se abrigavam também a cadeia e a escola. A porta principal do teatro dava frente à Rua Prudente de Morais. Segundo relato do padre Francisco Assis de Castro, em 1858: “Casa do teatro, atrás da cadeia, com frente para o norte, na Rua dos Pescadores, com 3 ordens de camarotes; não é forrado e nem assoalhado; os bancos são taboas toscas, sobrepostas em pedaços de vigas”. Além da porta principal, a porta da frente apresentava cinco janelas bem altas e uma pequena rosácea. Nas paredes laterais, quatro pequenas janelas. No ano de 1856, a Câmara determinou que, encostadas a uma de suas paredes, fossem levantadas casinhas provisórias para venda de hortaliças. Em 1° de setembro de 1865, desabou uma das paredes laterais, matando um cavalo, e como já apresentava perigo para os seus frequentadores, seu responsável recebeu intimação da Câmara para demolí-lo, no prazo de sessenta dias. Caso a ordem não fosse executada, a Câmara tomaria as providências, ficando as despesas por conta do proprietário. Pela data do dia 12, conhece-se o responsável pelo teatro, Miguel Dutra, a quem foi dirigido o ofício da intimação. A ordem foi cumprida, ficando a Vila novamente sem casa de diversão pública. A partir de 19 de janeiro de 1870, foi construído, no mesmo local, e com as mesmas dimensões, outro edifício, desta vez para o Teatro Santo Estevão, inaugurado em 1871. Em 23 de fevereiro de 1890 foi entregue à Câmara um abaixo-assinado pedindo a sua demolição “… cujo estado vergonhoso e ruinoso está pedindo a execução do art.° 22 do Código de Posturas”. Segundo a representação, havia a necessidade de arrasar o casarão, ameaçado de desabamento, para, no terreno, levantar-se um teatro digno deste nome ou proceder-se à sua conclusão, o que, entretanto, já se tornou impossível, por sua imprestabilidade. “Sabeis, cidadãos Intendentes, que o teatro é um dos padrões por que se mede a civilização da localidade que o possui. Esse, porém, que Piracicaba infelizmente ainda vê de pé, ofuscando a sua invejável beleza, não é, não pode, por forma alguma, ser padrão do adiantamento e civilização desta cidade que tão dignamente representais, como legisladores que sois, a prol de seu progredir”. A ata do dia 18 de março de 1890 traz o parecer da comissão encarregada de pronunciar-se sobre a representação, que após consulta aos profissionais competentes, decidiu que o proprietário deveria demolir o prédio ou então reformá-lo o mais rápido possível, principalmente na substituição de uma das paredes. O proprietário, Barão de Rezende, se identificou. Em 19 de março de 1890, o Barão de Rezende, provedor da Santa Casa de Misericórdia (proprietária do teatro, após doação), se prontificou a reformar o edifício. O prédio foi ampliado e chamado de novo Santo Estevão. A Câmara isentou os espetáculos de impostos, em 1893, a fim de que a Santa Casa de Misericórdia obtivesse maiores rendimentos. É também deste ano a autorização para a abertura de portas laterais. Em 27 de maio de 1900, chegou na cidade o arquiteto Oscar Kleinschmidt, de São Paulo, encarregado da reforma, segundo Guerrini (1970). No ano de 1903, foi executado um projeto do arquiteto Serafino Corso, construído por Carlos Zanotta, que trouxe a última configuração de fachada. A Santa Casa de Misericórdia, proprietária do teatro, solicitou em 1921, à Câmara área de terreno para ampliação dele, pois as dimensões eram tão pequenas, que os rendimentos eram insignificantes. A Comissão de Finanças cedeu, à Santa Casa, uma faixa de terreno nos fundos do mesmo, correspondente às dimensões da frente do edifício, por dez metros de fundo, necessária à reforma da casa de espetáculos, desde que apresentasse um projeto de reforma. O entusiasmo ficou no papel, pois no ano seguinte, a ata de 20 de fevereiro traz a notícia de que a Santa Casa estava publicando editais de venda, na imprensa local. A Prefeitura propôs a compra, em junho de 1922, com todos os seus acessórios e mobiliários, incorporando-o ao patrimônio municipal, e reformando o teatro, mediante planta e orçamento para aprovação da Câmara. O Prefeito deveria resolver a melhor forma da ocupação do edifício mediante contrato, por concorrência pública. A planta de reforma e a proposta de arrendamento foram apresentadas pelo Executivo somente em fevereiro de 1923. Sobre essa matéria manifestou-se a Comissão de Finanças no mês de março, concluindo que o assunto fosse estudado por um técnico. Em junho de 1951, a Câmara aprovou a doação, por concorrência pública, do prédio e terreno do teatro, em troca da construção nesse lugar, de um edifício com mais de cinco andares, mas não houve interessados. Em setembro de 1952, foi aprovada a demolição do prédio, para se construir outro teatro na parte ampliada da praça, mas não se concretizou. Em maio do ano seguinte, surgiu a ideia de um teatro municipal, conjugado, porém, com prédios para o paço da Prefeitura. No mês seguinte, um requerimento de vereador solicitou formalmente sua demolição. O prédio foi demolido, conforme se vê na ata de 16 de agosto de 1953, após o mesmo ter sido vistoriado por uma comissão nomeada (GUERRINI, 1970; VITTI, 1991).
Outras Informações
Edifício dividido em dois blocos. No primeiro bloco encontravam-se dois pavimentos e no bloco seguinte, mais antigo, havia a plateia, com duas fileiras de galerias e palco, este com entrada própria. Na fachada principal, encontravam-se cinco portas em arco pleno que se compunham com outras cinco janelas-balcão (com balaustrada), também em arco pleno. Em toda a extensão do edifício, havia platibandas decoradas, inclusive com balaustrada em alguns trechos. Como coroamento destas platibandas, um grande elemento decorativo, que marcava a entrada principal, além de bustos (de artistas ligados às artes musicais e teatrais), rocalhas e outros elementos do repertório barroco. Nas fachadas laterais, as janelas superiores apresentam arcos abatidos e pilastras dóricas. Na fachada da rua Prudente de Moraes, o primeiro pavimento é central, constituído por uma camarinha, e se compõe com o térreo através de duas volutas.
Documentos Correlatos
Não identificados
Referências
CACHIONI, Marcelo. Arquitetura Eclética na Cidade de Piracicaba. 2002. Dissertação (Mestrado em Arquitetura) - Programa de Pós-Graduação da Faculdade de Arquitetura e Urbanismo, Pontifícia Universidade Católica de Campinas, Campinas, 2002.
GUERRINI, Leandro. História de Piracicaba em Quadrinhos. 2 volumes. Piracicaba: IHGP, 1970.
VITTI, Lino. A Piracicaba minha terra. Piracicaba: Secretaria Municipal de Educação, 1991.