Giovanni Battista Bianchi
Segundo Salmoni & Debenedetti (1981), Giovanni Battista Bianchi nasceu na cidade de Erba, na Itália em 1885. Estudou na Escola de Belas Artes de Milão e foi posteriormente inscrito no Álbum Profissional dos Arquitetos e Engenheiros Milaneses. Trabalhou no Estúdio de Giuseppe Sommaruga, profissional conhecido por sua produção no estilo Floreal. “Dois desenhos de Bianchi foram incluídos num volume, organizado por Crudo, sobre as fachadas modernas mais admiradas em Milão, na época, ao lado de desenhos de Sommaruga, Salmoiraghi, Stacchini, Pirovano, Parini e Moretti. As fachadas apresentavam uma profusão de decorações em forma de folhas e flores, pela predominância de linhas verticais, das janelas altas e estreitas, muitas vezes subdivididas por várias luzes e sacadas de ferro com usuais motivos ornamentais” (SALMONI e DEBENEDETTI, 1981).
Bianchi chegou em São Paulo no ano de 1911, com 26 anos e um contrato de trabalho que lhe tinha sido fornecido pelo engenheiro Morelli, para o qual construiu uma casa (onde se encontra o Edifício A Gazeta). Segundo as autoras, poucos meses após desembarcar no Brasil, como já era profissional ativo na Itália, foi empossado pela Diretoria de Obras Públicas do Estado de São Paulo, em cujos escritórios, vários italianos já tinham trabalhado (SALMONI e DEBENEDETTI, 1981; WOLFF, 1992). A partir da entrada de Bianchi no DOP, as escolas, que tinham sempre elementos marcadamente neoclássicos ou neogóticos como padrão no contexto do Ecletismo, passam a ter o art nouveau como referência fundamental. Somente as últimas Escolas projetadas por Ramos de Azevedo, em 1917 para Grupos Escolares de São Paulo, voltariam a exibir o Neoclássico nas fachadas.
Segundo Corrêa (1991), o primeiro edifício escolar projetado por Bianchi para a DOP, foi para o Grupo Escolar de Pitangueiras. Originalmente construído com pavimento único e porão alto, foi reformado para dois pavimentos, restando de sua concepção original, apenas os frontões e a platibanda (CORRÊA, 1991). A autora destaca que recém chegado da Itália, antes que pudesse se influenciar pela ‘maneira de fazer escolas’ que condicionou vários profissionais que trabalhavam há mais tempo no DOP, o arquiteto projetou, em alguns meses, três edifícios totalmente diferentes. No mesmo ano, 1911, o arquiteto elaborou um projeto tipo para os Grupos Escolares de Guaratinguetá, Jaú, e dos bairros paulistanos da Liberdade e da Lapa. Embora tenha adotado o mesmo partido arquitetônico, cada um dos dois últimos edifícios recebeu um tratamento formal bastante diferenciado (CORRÊA, 1991).
Bianchi introduziu algumas inovações em planta quanto à disposição dos ambientes, como por exemplo, a descentralização da circulação definida e independente de acesso às várias salas de aula e a retirada das tradicionais separações por sexo nos ambientes (CORRÊA, 1991).
Segundo Salmoni e Debenedetti (1981), tão logo se espalhou a notícia de que um jovem arquiteto, já conhecido em Milão entre os expoentes da ‘arte nova’, os magnatas da colônia italiana passaram a requisitá-lo. Trabalhou para o Conde Francisco Matarazzo, na ampliação do palacete construído por Saltini e por meio dele, teve a incumbência de construir o Hospital Umberto I. Entre 1912 e 1915, trabalhou em sociedade com Alberto Pozzo, professor de Resistência dos Materiais na Escola Politécnica. Construíram juntos a mansão Monte Murro na Rua Peixoto Gomide em São Paulo, uma casa alta, de dois pavimentos, com janelas estreitas e ornamentação em estilo Floreal à base de medalhões com cabeças de mulheres e grinaldas de frutas. Pozzo voltou à Itália para tomar parte da Primeira Guerra Mundial e Bianchi continuou trabalhando no estúdio (SALMONI e DEBENEDETTI, 1981).
A família Crespi, além dos Matarazzo, se tornou sua cliente fiel. “Entre os anos de 1920 e 1927, construiu as casas da Condessa Marina e dos filhos Renata Crespi-Prado e do Conde Adriano, além de um prédio na Rua São Bento e fábricas na Moóca. As residências da Condessa Marina, do Conde Attilio Matarazzo e do senhor Gallian já apresentavam despojamento de decoração. Em 1927 Bianchi construiu um pavilhão na Feira de Amostras de Nova Iorque e voltou para a Itália, onde permaneceu até 1933. Em seis anos, projetou a Igreja de Mussolinia; restaurou a Mole Antonelliana; e participou do concurso para o arranjo da ‘Manica Lunga’ (Manga Comprida) em Milão, ganhando medalha de Ouro” (SALMONI e DEBENEDETTI, 1981).
Segundo Salmoni e Debenedetti (1981), o arquiteto voltou ao Brasil em 1933, pois não quis aderir ao fascismo, e sua permanência se tornou difícil na Itália. “Do segundo período de trabalho no Brasil, está a maior parte de seus trabalhos e talvez a mais significativa. Seu estilo sofreu uma transformação radical e o arquiteto passou a valorizar os elementos estruturais, despojamento total de ornamentação aplicada e preocupação com o entorno” (SALMONI e DEBENEDETTI, 1981). As outoras destacam que seguindo este estilo, se não teve uma verdadeira originalidade de idéias, teve entretanto o mérito de se manter atualizado quanto às novidades. Projetou o arranjo da ‘Fazenda Santa Cruz’, com uma piscina de mármores e a casa do conde Adriano, arquitetura funcional, elaborada com aspecto de ponte de navio, engastada na paisagem. A obra considerada mais importante, deste período de Bianchi, foi a Creche dos Cotonifícios Crespi, na Moóca. O edifício bastante moderno, foi terminado 8 anos após a primeira casa modernista de Warchawchik, e se caracteriza por seus pilotis de base, faixas horizontais de tijolos delineadas com alvenaria e amplas janelas horizontais (SALMONI e DEBENEDETTI, 1981).
Salmoni & Debenedetti destacam que além de arquiteto, Bianchi foi também aquarelista talentoso e expôs com sucesso uma série de aquarelas, em Milão em 1929 e em São Paulo em 1932. Giovanni Bianchi suicidou-se em 1942, em São Paulo (SALMONI e DEBENEDETTI, 1981).
Principais Obras
Obra(s) projetada(s) / executada(s) em Piracicaba:
Escola Normal de Piracicaba - atual Sud Menucci (1913)
Obra(s) em outras cidades brasileiras:
Grupo Escolar de Pitangueiras (1911)
Grupo Escolar de Guaratinguetá (1911)
Grupo Escolar de Jaú (1911)
Grupo Escolar da Liberdade, São Paulo (1911)
Grupo Escolar da Lapa, São Paulo (1911)
Escola Normal de Piracicaba (1913)
Escola Normal de Botucatu (1913)
Sede do Corpo de Bombeiros de São Paulo, Praça João Mendes, São Paulo
Hospital Umberto I, São Paulo
Mansão Monte Murro, Rua Peixoto Gomide, São Paulo
Residência Condessa Marina Crespi, São Paulo
Residência Renata Crespi, São Paulo
Residência Conde Adriano Crespi, Santo Amaro
Prédio na Rua São Bento para os Crespi, São Paulo
Instalações Fabris da Família Crespi, São Paulo (Mooca)
Creche dos Cotonifícios Crespi, São Paulo (Mooca)
Residência do Conde Attilio Matarazzo, São Paulo
Residência do Senhor Gallian
Fazenda Santa Cruz
Obra(s) nos Estados Unidos:
Pavilhão na Feira de Amostras de Nova Iorque (1927)
Obra(s) na Itália (entre 1927 E 1933):
Igreja de Mussolinia
Restauro de Mole Antonelliana
Medalha de Ouro no concurso para o arranjo da ‘Manica Lunga’ (Manga Comprida) em Milão
Prédios Relacionados
Referências
CORRÊA, Maria E. Peirão (Org). Arquitetura Escolar Paulista 1890 – 1920. São Paulo: FDE Diretoria de Obras e Serviços, 1991.
SALMONI, Anitta e DEBENEDETTI, Emma. Arquitetura Italiana em São Paulo. São Paulo: Perspectiva, 1981.
WOLFF, Sílvia Ferreira. Espaço e Educação. Os Primeiros Passos da Arquitetura das Escolas Públicas Paulistanas. Dissertação (Mestrado em Arquitetura e Urbanismo) - Faculdade de Arquitetura e Urbanismo, Universidade de São Paulo, São Paulo, 1992.