Palacete Levy
Com o aumento da produção cafeeira na região muitos fazendeiros enriqueceram e contribuíram com o crescimento e desenvolvimento das cidades e foram edificando construções que formaram, ao longo dos anos, a paisagem cultural urbana. As fazendas formadas para o cultivo do café seriam grandes polos de riqueza e crescimento, fazendo com que a riqueza da elite rural fosse aplicada para formar as novas cidades que surgiam. O Palacete da Família Barros Silva foi um destes exemplares urbanos que veio expressar toda essa riqueza na cidade de Limeira. O café “tornou-se não só a fonte de riqueza mais ponderável das regiões produtoras como também, e cada vez mais, a única verdadeiramente dignificante (BUSCH, 1967.p.12).” A história deste Palacete pode ser dividida em três momentos importantes: Residência da Família Barros Silva (1881-1903); Instituto Musical “Carlos Gomes” – Família Levy (1903-1939); e Indústrias Machinas Zaccaria (1939-1975). E a partir deste último período passou a ser propriedade da Prefeitura Municipal de Limeira. A construção foi edificada para alcançar o desejo da família que almejava fixar residência no centro da cidade. Seu idealizador, Sebastião de Barros Silva, proprietário da Fazenda Itapema, edificaria sua majestosa residência em um dos lugares mais nobres da cidade: o Largo da Igreja Boa Morte. Nas proximidades da Igreja de Nossa Senhora da Boa Morte e Assumpção, igreja erguida pelo avô Bento Manoel de Barros (Barão de Campinas), o Palacete estaria em um lugar privilegiado da cidade de Limeira. O edifício, de construção eclética, semelhante a grandes palacetes neoclássicos, enobreceu a cidade e deixou a marca da elite cafeeira na cidade. Quando construído, o Palacete ocupava todo o quarteirão e era circundado por magnífico jardim enobrecido pelo perfil de belas palmeiras imperiais, que hoje já não existem. Internamente possui detalhes decorativos que adornam os forros de amplos salões e pisos que possuíam desenhos diferenciados com a utilização de diferentes tipos de madeiras. Todos os detalhes ornamentais foram executados pelo mestre Civatti, arquiteto, engenheiro e hábil entalhador, responsável também pela decoração interna da Igreja da Boa Morte. Em 1886, o Palacete recebeu o Imperador D. Pedro II e a Imperatriz Tereza Christina que estiveram em visita à cidade (HOLANDA, 1982.p.128). Os imperadores foram recebidos nesta residência por ser considerada à época a melhor, maior, mais rica e mais bela construção de Limeira. O custo desta edificação, porém, foi muito alto e os anseios da família ser transformaram em um grande problema, incompatível com suas posses. Incapacitado de saldar as dívidas e os empréstimos realizados com a casa bancária da Família Levy, o prédio foi entregue como forma de pagamento. Assim, de 1903 a 1915, o Palacete passou a pertencer à firma J. Levy & Irmão. Em 1915 a propriedade passou para José Levy, após dissolução da empresa. Por um período de dez anos o prédio ficou sem uso, sendo ocupado novamente somente em 1925 com a transformação do Palacete em espaço cultural, passando a ser sede do Instituto Musical “Carlos Gomes”. A idealização do Instituto foi responsabilidade de Martinho Levy, sobrinho do Coronel José Levy. Neste período, a edificação incorporou todo o glamour da elite da época. A própria inauguração foi ato de grande festividade, onde a maioria dos nobres da sociedade fizeram questão de marcar presença. Ali aconteceram muitos saraus, propiciando a sociabilização da elite limeirense. O Instituto foi considerado, na época, como a melhor escola de música do Estado de São Paulo. “Após anos de glória, segundo relatos de descendentes da família Levy, o Instituto encerrou suas atividades em meados dos anos 30″ (SOLER, 1996. p.12). Após este período, o Palacete foi concedido para ser novamente residência, agora de Odécio Bueno de Camargo. Anos mais tarde, os descendentes do Coronel José Levy doaram o prédio para a Santa Casa de Misericórdia de Limeira (LIMEIRA, 1939). Em 1945, a Santa Casa decide permutar o prédio com outro imóvel de propriedade da firma A. Zaccaria & Cia. (LIMEIRA, 1948). Foi neste momento, que toda a área do edifício, seu quarteirão, sofreu inúmeras transformações. O prédio passou a ser sede das Indústrias Machinas Zaccaria S/A e no restante do terreno foram construídos os barracões da indústria, que modificaram a finalidade pela qual foi projetado. Em 1975, o imóvel foi vendido e passou a pertencer à empresa Oliveira & Camargo Ltda., proprietários do Supermercado Guerra. Parte das edificações construídas em torno do palacete foram demolidas e a área foi desmembrada em três grandes lotes, dentre as quais duas foram vendidas a outras empresas. Assim a propriedade perdeu toda a sua composição original, descaracterizando sua implantação original, notando-se a total despreocupação com a preservação das estruturas originais. “Pôr fim, a terceira gleba de terra com área de 934,25 m2 contendo o Palacete, vem ser transferida pela Oliveira & Camargo Ltda. ao Município de Limeira (LIMEIRA, s.d. a), em cumprimento a um Decreto Lei que o reconhece como Patrimônio Público e Histórico” (LIMEIRA, s.d. b). No início da década de 1990, o Palacete foi desapropriado pela Prefeitura e entre 1994-1995, uma empresa de São Paulo foi contratada pela Prefeitura para fazer “a restauração do Palacete”, cujas obras interferiram nas estruturas do prédio. A reforma realizou algumas mudanças como a troca das telhas originais, a substituição das calhas de cobre por aço galvanizado e outros reparos, que acabaram sendo interrompidas pela falta de verbas públicas. A Prefeitura neste momento chegou a exibir uma placa, fixada na parte frontal do palacete, indicando a falsa “restauração” (LIMEIRA, 1990). Após a reforma, o edifício continuou apresentando inúmeros problemas de conservação, após as muitas intervenções a que se sujeitou ao longo dos anos. O intenso tráfego de veículos ao redor do prédio e o ataque de cupins existentes não haviam sido solucionados, assim como as pinturas realizadas que não respeitaram o uso das cores originais, nem interna e nem externamente. O edifício possuía belíssimas pinturas apresentadas por documentos históricos da família Levy (LEVY, s.d.), mas estas foram danificadas por texturas aplicadas sobre elas e por prospecções realizadas por pessoas inexperientes. O Palacete Levy, como ficou conhecido, foi restaurado pela Prefeitura em 2008-2009 e tombado pela municipalidade em 2016. Atualmente é sede da Secretaria da Cultura e sede da Orquestra Sinfônica de Limeira.
Documentos Correlatos
Não identificados
Referências
AZZOLINO, A. P.; BERTO, J. P. (org.). Museu Major José Levy Sobrinho: história e cultura material. Campinas, SP: Traço Publicações e Design, 2020.
BERTO, João Paulo (org.). Guia do patrimônio cultural de Limeira. (livro eletrônico). Campinas, SP: Faculdades Integradas Einstein de Limeira, 2021.
BUSCH, Reynaldo Kuntz. História de Limeira. 3 ed. Limeira: Sociedade Pró-Memória, 2007.
HEFLINGER JÚNIOR, J. E. Um pouco da história de Limeira. Volume I. Limeira, SP: Unigráfica, 2016.
HEFLINGER JÚNIOR, J. E. Um pouco da história de Limeira. Volume II. Limeira, SP: Unigráfica, 2017.
HOLANDA, Sérgio B. de. Raízes do Brasil. 15 ed. Rio de Janeiro: J. Olympio, 1982. p.128.
LEVY, Paulo Masuti. Arquivo Pessoal.
LIMEIRA. 2° Tabelião de Notas de Limeira. Escritura Pública, de 3 de outubro de 1939.
LIMEIRA. Cartório do 2° Registro de Imóveis e Anexos. Certidão de Imóvel de 27 de abril de 1945, publicada em 22 de julho de 1948. Transcrição n.2750.
LIMEIRA. Cartório do 2° Registro de Imóveis e Anexos. Transcrição n.3430. (a)
LIMEIRA. Cartório do 2° Registro de Imóveis e Anexos. Transcrição n.25392. (b)
LIMEIRA. Decreto Lei n.65 de 9 de março de 1990.
SCARIATO, Juliana Binotti Pereira. Caracterização da paisagem cultural da região de Limeira (SP) com base no reconhecimento e valorização do seu patrimônio de engenharia e arquitetura rural. 2009. Dissertação (Mestrado) - Universidade Estadual de Campinas, Faculdade de Engenharia Civil, Arquitetura e Urbanismo, Campinas, SP.
SCARIATO, Juliana Binotti Pereira. Casa do Largo da Boa Morte. In: Caderno de Memórias, Limeira, nº 4, fev 2011. p 42-45.
SILVEIRA, Marcel Camargo. Imigração italiana em Limeira-SP: terra, política e instrução escolar. 2007. Dissertação (Mestrado) - Universidade Estadual de Campinas, Faculdade de Educação, Campinas, SP.
SOLER, José Cláudio Schibelsky. Memórias do Palacete Levy. In: Caderno de Memórias, Limeira, nº4, fev 2011. p 115-132.
SOLER, José Cláudio S. Memórias do Palacete Levy. Pesquisa Monográfica. Orientador Prof. Francisco Miranda. Universidade Metodista de Piracicaba. Piracicaba, 1996. p.12.