Mercado Municipal

A substituição dos antigos mercados centrais por um moderno centro de abastecimento responde ao aumento da demanda de uma sociedade em franco crescimento, pensado dentro dos mais altos padrões sanitários vigentes.
O desenho das fachadas do Mercado, em estilo eclético, foi idealizado pelo arquiteto italiano Felisberto Ranzini, que, em 1920, assumiu a chefia da seção de projetos do Escritório Ramos de Azevedo. Suas plantas foram elaboradas entre 1924 e 1925, e entre as abreviaturas dos carimbos constam “A.G.” – desenhista – e “D.P” – copista -, provavelmente referindo-se a Américo Giglio e Domingos Pellicciotta. A construção do edifício contou também com a parceria com o Liceu de Artes e Ofícios de São Paulo.
O novo Mercado foi implantado num terreno de 22.850 m², dispondo de 12,6 mil m² de área construída e pé direito de 16 metros. Para vencer os grandes vãos, nota-se a utilização do concreto armado na elaboração de toda a estrutura: fundação, lajes, pilares e vigas. Para a vedação, foram utilizados o que aparentam ser tijolos de barro comuns. Esses elementos contrastam com os componentes mais escultóricos presentes na ornamentação interna e externa do Mercado, com elementos do neoclassicismo alusivos ao caráter do edifício. Outro aspecto importante do projeto são os vitrais, executados por Conrado Sorgenicht Filho. Algumas fontes apontam que o edifício foi inspirado no Mercado Central de Berlim. Construído em 1886, apresenta torreões nas laterais, fachadas e volumetria que lembram as do Mercado Paulistano.
Foi tombado pelo Condephaat em 1904 – mas inscrito no livro do tombo histórico apenas em 2004 – e em 2017 pelo Conpresp.
Outras Informações
O Mercado Municipal de São Paulo foi inaugurado em 25 de janeiro de 1933, na ocasião do aniversário da cidade.
Se pode dizer que este constitui um pavilhão modulado, com 115 metros de largura por 112 de profundidade. A planta é simétrica e os pilares são organizados em uma sequência 2X1, e conduzem as águas coletadas do telhado. Além disso, a obra tem quatro grandes torres de arremate, duas delas com cúpulas, sustentadas por arcos abaulados. Destacam-se também aberturas centrais preenchidas com claraboias. A decisão de colocar telhas de cerâmica na cobertura, sobre as lajes de concreto armado, causa estranhamento, visto que elas eram dispensáveis.
O projeto do edifício chama atenção para o nível de detalhamento do mobiliário, expresso nos desenhos do Escritório, que contratou o Liceu de Artes e Ofícios para a concepção das bancas, especificando as prateleiras, vitrines e armações. Uma das plantas do Mercado revela ainda a posição exata dos boxes, visto que o projeto original do espaço previa uma organização funcional entre diferentes tipos de comércio, sendo que cereais, legumes, frutas e flores ocupariam 40% do espaço; 20% os laticínios e salgados; e 25% para carnes, peixes e animais.
Outro aspecto importante do projeto são os vitrais, executados por Conrado Sorgenicht Filho. Para a realização de tal tarefa, o artesão visitou fazendas e sítios e tirou fotografias que retratassem o cotidiano da vida no campo. A sua documentação foi feita quando o trabalho manual nas lavouras prevalecia sobre o trabalho mecanizado, testemunhando cenas que foram depois reproduzidas por desenhos sobre o vidro, em escala natural. Posteriormente, cada peça foi recortada e cada retalho colorido e detalhado, de modo a retratar o cenário observado da maneira mais fiel possível. O trabalho levou 5 anos para ser finalizado, e resultou em 5 grandes vitrais temáticos.
Em agosto de 2003, sob a gestão de Marta Suplicy, inicia-se a maior reforma do complexo. O projeto estava inserido no Programa de Revitalização do centro de São Paulo PROCENTRO e foi financiado pela parceria entre o BID - Banco Interamericano de Financiamento - e a Prefeitura. O projeto foi assinado pelo Escritório PPMS - Pedro Paulo de Mello Saraiva - Arquitetos Associados e visava manter a integridade da construção, propondo intervenções que a tornassem, sobretudo, segura e funcional. Na reforma, destaca- se a criação de um mezanino que passou a abrigar restaurantes de cozinhas diversas, formando uma varanda de onde os visitantes podem apreciar todo o interior do Mercado, totalizando 2 mil m². A requalificação do edifício fez com que sua área construída passasse de 12,6 mil m² para aproximadamente 20 mil m². Os vitrais de Conrado Filho exigiram uma busca na França por placas de vidro que substituíssem as placas rompidas ou restauradas de maneira incorreta ao longo dos anos. Os painéis passaram a ser iluminados, de modo a valorizar suas representações, e a pintura do prédio é minuciosamente refeita, a partir de um trabalho de investigação que consistiu em descobrir a cor original utilizada, interna e externamente, a fim de que a mesma pudesse ser reaplicada.
Documentos Correlatos
Título: Mappa Topographico do Município de São Paulo.
Autor/ Produtor: Empresa SARA BRASIL S/A. Escala 1: 5 000.
Ano: 1930
Fonte: Prefeitura Municipal de São Paulo
Título: Município de São Paulo: levantamento aerofotográfico.
Autor/ Produtor: Consórcio VASP Cruzeiro.
Ano: 1954
Fonte: Prefeitura Municipal de São Paulo
Referências
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