Liceu de Artes e Ofícios Bento Quirino

Inserido no período de modernização das cidades e do crescimento da indústria, o Liceu de Artes e Ofícios Bento Quirino responde às necessidades de mão-de-obra qualificada exigidas pelo início do século XX. Inaugurado em 1918, foi encomendado por Bento Quirino dos Santos, membro da elite que destinou parte de seu testamento para a criação de um instituto profissionalizante em Campinas.

Para atender ao seu pedido e à intensa demanda por um ensino profissional, criou-se, em 1915, a Associação Industrial Profissional Bento Quirino, a qual definiu Ramos de Azevedo como responsável pelo projeto e execução da obra. Desde 1895, o engenheiro-arquiteto tinha o comando do Liceu de Artes e Ofícios de São Paulo e a partir de seu controle, a instituição converteu-se em um modelo exemplar de ensino. Para Campinas, projetou o instituto em dois edifícios ecléticos que compunham um majestoso conjunto.

Situado entre as ruas Culto À Ciência e Saldanha Marinho, o Liceu foi construído em uma região próxima ao Mercado Municipal, projetado por Ramos de Azevedo e ao Colégio Culto À Ciência, outro edifício educacional. O terreno escolhido era de posse de Bento Quirino, ao qual foram anexados lotes lindeiros, correspondendo a uma área total de 8,155 mil m².

O instituto foi edificado em dois grandes blocos paralelos entre si, o “Edifício Escolar”, que corresponde à fachada principal à rua Culto À Ciência e o “Oficinas”. Executado em três pavimentos – porão, térreo e superior –  o “Edifício Escolar” abrigava as atividades teóricas e administrativas. No térreo, localizavam-se as salas de aula, salas de leitura e secretaria no térreo e no andar superior, sala da diretoria e salão de festas. O bloco das “Oficinas”, de apenas um pavimento, foi destinado às práticas, contando com espaços de serralheria e marcenaria, salão de exposição dos trabalhos e duas salas que abrigavam os materiais.

Feita em alvenaria de tijolos, a construção do Liceu foi executada em apenas dois anos e assim, em 1918, Campinas já contava com seu próprio e imponente edifício destinado à formação de profissionais e artesãos  qualificados.

Concebido em linguagem eclética, o “Edifício Escolar” constitui-se por um corpo central e dois corpos em cada lateral, com notável simetria e envasaduras ritmadas. O térreo é marcado por uma escadaria e três grandes portas no corpo central e janelas com envasaduras em forma de arco. No segundo pavimento, o corpo central e os dois das extremidades apresentam sacadas balaustradas, colunatas ornamentadas, envasaduras em arco, enquanto os corpos ao lado do central apresentam envasaduras retas com frontões triangulares. Já o edifício das oficinas foi executado sem ornamentos, com fachadas simples em uma linguagem fabril.

O espaço interno do edifício principal exibe traços do requinte de suas fachadas. Destacam-se a serralheria artística dos corrimões e parapeitos. O interior do edifício das oficinas condiz com seu uso e assim, apresenta grandes espaços sem ornamentos.

A obra apresenta proteção estadual desde 1984, pela Resolução nº 30 de 29/10/1984 do Conselho de Defesa do Patrimônio Histórico, Artístico, Arqueológico e Turístico do Estado de São Paulo (CONDEPHAAT). Entre 1967 e 2014, o Liceu abrigou o Colégio Técnico de Campinas (COTUCA), coordenado pela UNICAMP. Em 2015, a obra foi tombada também pelo Conselho de Defesa do Patrimônio Cultural de Campinas (CONDEPACC), Resolução nº 132 de 13/10/2015.