Edifício Diederichsen
O Edifício Diederichsen foi projetado e aprovado para construção em 1934, no centro da cidade de Ribeirão Preto, em terreno com mais de 2.000 m², voltado para as ruas São Sebastião, Álvares Cabral e General Osório, defronte à esplanada da Praça XV de Novembro e conjunto de edifícios do Quarteirão Paulista. Teve como promotor o empresário Antonio Diederichsen e, como autores, os profissionais não diplomados Antonio Terreri e Paschoal de Vincenzo.
Quando inaugurado, em 1937, o prédio com sete pavimentos foi a edificação com o maior número de pavimentos da cidade e o primeiro edifício verticalizado destinado ao uso misto. Seu térreo foi projetado para abrigar um cinema e salões comerciais, enquanto os dois pavimentos seguintes foram compostos por salas para prestação de serviços. Acima, o quarto e quinto pavimentos se destinaram à moradia em apartamentos. Conjugando o programa habitacional ao de prestação de serviços, o sexto pavimento recebeu a destinação hoteleira, que inicialmente utilizava parte da cobertura, no sétimo pavimento, como área de uso comum para os hóspedes. Nesse último pavimento também estava localizado um apartamento destinado ao zelador do edifício, que por muitos anos abrigou a família de um dos administradores do hotel.
O Edifício Diederichsen foi batizado com o sobrenome de seu idealizador e primeiro proprietário, Antonio Diederichsen. Paulistano, filho de um alemão e uma brasileira, Antonio Diederichsen se mudou para a região de Ribeirão Preto na última década do século XIX para trabalhar na administração de fazendas de seu primo, Arthur Diederichsen, que também foi um importante político no estado de São Paulo e o primeiro Intendente de Ribeirão Preto, em 1892. A partir de 1903, Antonio Diederichsen deu início aos seus negócios urbanos em Ribeirão Preto e, nas décadas seguintes, alcançou grande sucesso econômico com sua empresa, o Antigo Banco Constructor. A empresa atuou em variados ramos – como fornecimento de utensílios para o setor agrícola, oficina mecânica, venda de automóveis, posto de combustível, capitalização de títulos e comércio de artigos variados para uso doméstico – e suas instalações passaram por diversas expansões físicas. Antes da concepção do Edifício Diederichsen, Antonio Terreri e Paschoal de Vincenzo também projetaram e construíram alguns desses estabelecimentos.
Segundo Lima (2020), Antonio Terreri nasceu na cidade de Campinas, em 1892, embora no testamento do empresário – em que fora designado como testemunha – conste a informação de que Terreri era natural da Itália. Em Ribeirão Preto, Antonio Terreri atuou como arquiteto e construtor entre as décadas de 1910 e 1950. Terreri também manteve escritório para exercício dessas atividades profissionais em São Paulo ao menos desde o início da década de 1920, tendo residido na capital paulista até o seu falecimento, em 1959. Foi titulado como “projetista construtor” em 1926 e, até 1938, teve sua carteira profissional expedida pelo CREA (LIMA, 2020). Entre 1947 e 1951, Antonio Terreri e seu filho, Henrique Nuncio Terreri, ainda foram responsáveis pela concepção e construção do Hotel Umuarama, promovido pela Cia. Comércio e Indústria Antonio Diederichsen, com 15 pavimentos, no terreno ao lado do Edifício Diederichsen.
Paschoal de Vincenzo – que, de acordo com Leonardo (2013, p. 53), era a abreviatura do nome de Domenico Paschoali Di Vincenzo – teria nascido na cidade de Pescopenataro, na Itália (LEONARDO, 2013). De Vincenzo teve vasta atuação em Ribeirão Preto a partir de 1922 e, até a década de 1930, participou da construção de diversos edifícios formulados para Antonio Diederichsen. Juntos, Antonio Terreri e Paschoal de Vincenzo também projetaram, em Ribeirão Preto, um posto de combustível para abastecimento de veículos, de propriedade de Antonio Diederichsen, em 1931, e conceberam edificações para outros contratantes, como duas residências estilisticamente vinculadas ao Art Déco, em 1933 e 1934, mesmo ano de aprovação do Edifício Diederichsen.
Devido a problemas de infiltração, parte da cobertura do Edifício Diederichsen projetada em 1934 como uma laje descoberta para uso do hotel, no sétimo pavimento, precisou ser coberta no ano seguinte à inauguração do prédio. O requerimento de aprovação junto à Prefeitura de Ribeirão Preto foi assinado pelo escritório Nóbrega & Dompietro, em 1938. Na única prancha do projeto apresentado, consta a assinatura do engenheiro Nelson Rodrigues Nobrega e o carimbo do escritório Terreri & Zamboni, com sede em São Paulo.
Outras Informações
Por meio de seu testamento, Antonio Diederichsen doou o Edifício Diederichsen à Santa Casa de Misericórdia de Ribeirão Preto que, após o falecimento do empresário, em 1955, passou a administrar o prédio.
Em 1998, o Edifício Diederichsen teve iniciado seu processo de tombamento pelo Conselho de Defesa do Patrimônio Histórico, Arqueológico, Artístico e Turístico do Estado de São Paulo – CONDEPHAAT, até que, em 2005, tornou-se um bem cultural do estado de São Paulo. A Resolução de Tombamento do Edifício Diederichsen definiu a proteção de suas “fachadas externas, saguões, caixas de escada e demais elementos contemporâneos, inclusive nos estabelecimentos comerciais” (SÃO PAULO, 2005).
Até 2018, o Edifício Diederichsen manteve seus usos originais, exceto pelo setor do cinema, que deixou de servir a essa finalidade em 1992. Em 1995, esse espaço se tornou uma casa de bingo que, após sucessivos fechamentos, teve suas atividades encerradas no local em 2010. Desde então, o antigo cinema do Edifício Diederichsen se manteve sem uso e passou por diversas ações de degradação e descaracterização, até entrar em estado de arruinamento no final do ano de 2019, quando um temporal o destelhou e causou danos à estrutura da sua cobertura.
Em 2016, a Santa Casa de Misericórdia de Ribeirão Preto iniciou um processo de desocupação dos pavimentos acima do térreo. Até o momento atual, em 2022, esses andares permanecem sem uso e sem locatários, estando em atividade apenas os estabelecimentos comerciais do Edifício Diederichsen.
Em todos os pavimentos do Edifício Diederichsen, a compartimentação interna dos ambientes passou por diversas alterações ao longo do tempo, mas, de forma, geral, conservou-se a configuração original do projeto concebido por Antonio Terreri e Paschoal de Vincenzo, em 1934. Externamente, a edificação também se manteve íntegra, mas as fachadas em pó de mica apresentam patologias provocadas por intervenções malsucedidas, pelas ações do tempo e pela ausência de manutenção, como sujidade, manchas de umidade, presença de vegetação parasitária, desplacamentos na argamassa e esquadrias danificadas.
Documentos Correlatos
Título: Estudo de tombamento do Edifício Diederichsen, situado na rua Álvares Cabral, n. 469, Ribeirão Preto – SP.
Autor/ Produtor: CONDEPHAAT
Ano: 1998
Fonte: CONDEPHAAT, Processo n. 37922/1998.
Referências
GASPAR, Tatiana de Souza. Edifício Diederichsen: concepção e trajetória. 2022. Tese (Doutorado em Arquitetura e Urbanismo) – Instituto de Arquitetura e Urbanismo, Universidade de São Paulo, São Carlos, 2022.
LEONARDO, Lais Fernandes. Um prédio, três cidades: a biografia urbana do Edifício Diederichsen, Ribeirão Preto (1930-1990). 2013. Dissertação (mestrado) – Centro de Ciências Exatas, Ambientas e de Tecnologias, Pontifícia Universidades Católica de Campinas, Campinas, 2013.
LIMA, Ana Carolina Gléria. Casa e documentação: A história contada através de um acervo de projetos. 2020. Tese (Doutorado em Arquitetura e Urbanismo) – Instituto de Arquitetura e Urbanismo, Universidade de São Paulo, São Carlos, 2020.
SÃO PAULO (Estado). Secretaria da Cultura. Resolução n. 33, de 08 de agosto de 2005. Tomba o Edifício Diederichsen, em Ribeirão Preto como bem cultural. Imprensa Oficial do Estado de São Paulo, Poder Executivo, São Paulo, SP, 01 set. 2005. Seção I, p. 28.