Casas de negócios e moradias
Ao longo de sua trajetória profissional em Ribeirão Preto, entre meados da década de 1890, quando chegou à cidade, e 1918, ano de seu falecimento, Vincenzo Lo Giudice construiu mais de uma centena de edificações públicos e particulares. Dentre seus clientes estavam fazendeiros, médicos, investidores imobiliários, comerciantes, dentre outros cujos nomes costumam ser identificados por meio da documentação apresentada à Prefeitura Municipal nos processos de aprovação de obras. Neste processo, porém, não há indicação do proprietário. Trata-se de um conjunto de três edificações, projetado em 1916, em um terreno de esquina, entre a Rua Saldanha Marinho e a Rua do Comércio, atual rua Mariana Junqueira, na região central de Ribeirão Preto. A Rua do Comércio manteve esse nome até finais da década de 1910 em referência à intensa atividade comercial ali concentrada durante o século XIX. Com a inauguração da estação ferroviária em 1885, defronte à Rua General Osório, esta passou a ser o principal eixo comercial da cidade. A Rua Saldanha Marinho, por sua vez, desde a formação da vila do Ribeirão Preto se manteve como um importante eixo de circulação de pessoas e mercadorias, pois a partir dela se tinha acesso à estrada que ia para Batatais. Após a inauguração do Núcleo Colonial Antonio Prado, em 1897, a Rua Saldanha Marinho foi prolongada para além do Córrego do Retiro e se tornou o principal eixo de comunicação da cidade com o núcleo, motivo pelo qual diversos imigrantes abriram estabelecimentos comerciais ao longo dela. Houve assim uma predominância de imóveis de uso misto, já que era uma frequente os donos de tais estabelecimentos também residirem no local, fossem eles proprietários dos imóveis ou apenas inquilinos.
O projeto em questão é composto por três edificações, sendo duas delas geminadas. A edificação voltada para a Rua do Comércio é de uso exclusivamente residencial. A entrada para as duas moradias é feita por meio de um alpendre, recuado do alinhamento da calçada. O programa das moradias é espelhado e distribuído por um corredor localizado ao centro da edificação. Ao fundo, as hachuras quadriculadas indicam a presença de ladrilhos e, provavelmente, as áreas de serviços.
A edificação da esquina, de uso misto, tem entradas separadas para a moradia e para o salão. A moradia tem acesso direto pela Rua do Comércio e o salão se volta para ambas as frentes da esquina. Conforme a representação em planta, há uma pequena abertura ao fundo do salão que dá acesso ao corredor lateral da casa.
A edificação que se volta para a Saldanha Marinho, assim como a primeira aqui descrita, é composta por duas residências geminadas. Diferem-se, entretanto, pelo fato de a edificação da Saldanha Marinho ter uso misto. Os dois salões se abrem para a rua, de modo que o acesso às residências é feito pelos corredores laterais. Nas fachadas apresentadas no projeto de aprovação é notória a diferença no tratamento conferido às fachadas de uso residencial e comercial. As portas de ferro de enrolar marcam uma relação com a rua muito mais fluida, enquanto o porão e as janelas da residência resguardam os interiores da casa dos olhares externos.
Outras Informações
Não foi encontrada a data em que ocorreu a demolição da residência, tampouco fotos que a antecedem. Atualmente, no terreno, existe um estacionamento e ainda resta um pequeno fragmento de uma das edificações.
Documentos Correlatos
Título: Livro de Registro da Hospedaria dos Imigrantes. 1877-1978
Autor/ Produtor: Hospedaria dos Imigrantes
Ano: 1877-1978
Fonte: Arquivo Público do Estado de São Paulo
Título: Planta Cadastral de Ribeirão Preto contendo dados relativos à canalização de Água e Exgottos
Autor/ Produtor: Raphael Schettini
Ano: 1918
Fonte: Arquivo Público e Histórico de Ribeirão Preto
Referências
CÂMARA MUNICIPAL do Ribeirão Preto. Código de Posturas. Ribeirão Preto: Typographia a vapor do Diário da Manhã, 1902.
LIMA, Ana Carolina Gleria. Casa e documentação: a história contada através de um acervo de projetos. 2020. Tese (Doutorado em Arquitetura e Urbanismo) - Instituto de Arquitetura e Urbanismo, Universidade de São Paulo, São Carlos, 2020. doi: https://doi.org/10.11606/T.102.2020.tde-30042021-072956.