Casarão do Artese

O sobrado, construído no início da década de 1910 e reformado e ampliado no início dos anos de 1920, serviu como moradia da família Artese até os anos de 1940. No período de 1944 a 1946, o imóvel abrigou a Escola de Comércio e a Escola Normal Livre. Na década de 1960, o edifício foi novamente reformado para atender as necessidades de uma creche. Foi utilizado ainda como escritório, redação, oficina e gráfica de jornal, e depois de então recebeu usos esparsos até ser fechado, entrar em ruína e ser demolido. Esse edifício foi o primeiro de grande dimensão construído pelo italiano Paschoal Artese em São José do Rio Pardo. Localizava-se e nas imediações do então Largo do Mercado, hoje Praça Barão do Rio Branco, e do Grupo Escolar Cândido Rodrigues, onde o predomínio se dava pelas edificações de baixo gabarito, térreas, o que conferia destaque ao Casarão (REZENDE, 2019). Construído elevado do solo e com um programa que atendia a extensa família, possuía, além da garagem, ambientes de representação social e de serviço no térreo e dormitórios no térreo e no pavimento superior. Em se tratando de sistema estrutural e do modo construtivo, Artese empregou, sobretudo, a alvenaria de tijolos sobre embasamento de pedra, com travamento inicial realizado pelas próprias paredes e pisos. Contudo, provavelmente o Casarão serviu de objeto de experimentação de diferentes materiais e técnicas construtivas, porque foi verificada a utilização de barrotes de madeira e também de trilhos de ferro encravados na alvenaria, enquanto a cobertura se manteve estruturado com madeira serrada e coberto com telha capa e canal. Internamente, as paredes eram argamassadas e pintadas, e os ambientes da área social e íntima foram revestidos por pintura em estêncil. Os pisos eram em ladrilho hidráulico, assoalho de madeira e tijolo cerâmico, e o forro amadeirado, ambos cumprindo a função de hierarquizar os ambientes. As esquadrias de maior destaque eram de ferro forjado e fundido, enquanto as demais eram de madeira, e todas possuíam bandeira fixa permitindo a iluminação e ventilação natural. Era um edifício eclético que se destacava pela riqueza de detalhes da composição da fachada que apresentava diversidade de vergas das molduras das aberturas, em arco pleno e ogival, e verga reta, dispostos de modo ritmado. Pilares e pilastras que remetiam às ordens coríntia e jônica; balaustradas e platibanda marcada pela composição livre de elementos florais. Alguns desses elementos e características foram alterados na primeira grande reforma realizada, passando então a apresentar uma profusão de elementos decorativos florais, claramente inspirados no estilo art nouveau, arcos abaulados e elementos delgados na proteção da varanda. (REZENDE E BORTOLUCCI, 2020).
Outras Informações
Em 2006, o Casarão que estava em estado de ruína foi vendido. Em 2008 o Conselho de Defesa e Estudos do Patrimônio Histórico, Artístico e Cultural de São José do Rio Pardo (CONDEPHAC-SJRP) iniciou um estudo de tombamento, contudo, o imóvel foi demolido sem o aval do referido Conselho, e, por decisão judicial, o novo proprietário foi obrigado a construir a fachada aos moldes do antigo Casarão, a qual foi finalizada em 2015. Tal situação por si só é bastante problemática, justamente porque tende a simular um objeto que não mais existe, criando, desse modo, um “falso histórico” ou simulacro (REZENDE, 2020).
Documentos Correlatos
Título: Jornais O Rio Pardo (1922-1965)
Ano: 1922-1965
Acervo: Hemeroteca Jornalista Paschoal Artese
Título: Acervo fotográfico relacionado as benfeitorias realizadas por Paschoal Artese.
Acervo: Centro da Memória Rio-Pardense Rodolpho José Del Guerra
Referências
REZENDE, Natalia Cappellari de. A cidade de São José do Rio Pardo e as moradias do Centro Histórico (1865-1940). Dissertação (Mestrado) - Instituto de Arquitetura e Urbanismo, Universidade de São Paulo, São Carlos, 2019.
REZENDE, Natalia Cappellari de. Arquitetura e paisagem: transformações e ressignificações do Centro Histórico de São José do Rio Pardo - SP. In: Natalia Cappellari de Rezende; Maria Ângela Pereira de Castro e Silva Bortolucci; Joana D’Arc de Oliveira; Rodrigo Sartori Jabur. (Org.). Reflexões sobre o Patrimônio Cultural Brasileiro: Homenagem aos 80 anos do IPHAN. 1ed. São Carlos: Universidade de São Paulo. Instituto de Arquitetura e Urbanismo de São Carlos, 2020, v. 1, p. 206-229.
REZENDE, Natalia Cappellari de; BORTOLUCCI, Maria Ângela Pereira de Castro e Silva. (2020). Anonimato historiográfico: a trajetória de Paschoal Artese na construção da modernidade urbano-arquitetônica rio-pardense. In: Anais do Museu Paulista: História e Cultura Material, v. 28, p. 1-35, 2020.