Prédio da Rua José Bonifácio

Em 1921, Rosa Maurno encomendou o projeto de um edifício de uso misto para um terreno sito à Rua José Bonifácio, cuja construção coube a José Campanella. No projeto não consta o carimbo ou a assinatura do autor do projeto, apenas de Giuseppe (José) Campanella, registrado no CREA como construtor. Campanella era de origem italiana e atuou na cidade de Ribeirão Preto nas primeiras décadas do século XX. De acordo com os registros dos Livros de Registro da Hospedaria dos Imigrantes, Campanella chegou ao Brasil entre 1887 e 1978 (LIMA, 2020). 

Muito embora na planta apresentada não sejam indicados os usos internos, o arranjo espacial é típico de edificações de uso misto, principalmente nessa região da cidade, próxima ao córrego do Retiro e da linha férrea da Companhia Mogiana, que impulsionou a instalação de muitos estabelecimentos comerciais, industriais e de serviços às suas margens. O prédio de Rosa Maurno contém nove cômodos distribuídos em um único pavimento. Desses, quatro eram 3,30mx3,00m, os demais possuíam dimensões únicas de 2,20mx1,00m; 2,30mx2,20m; 3,30mx4,00m; 4,45mx4,00m e 7,80mx4,50m. A transição entre os cômodos ocorria por meio de um corredor, que conectava a residência ao estabelecimento comercial, situado na parte frontal do terreno, com quatro portas se abrindo diretamente para a calçada. Todas as portas são dotadas de bandeiras com gradis de ferro trabalhados e encimada por uma platibanda ornamentada com festões.  Além do acesso à residência por dentro do salão comercial, dois portões de ferro marcam os acessos laterais, que levavam diretamente ao quintal da residência. Ao fundo, estão localizados o banheiro, com acesso externo, e a cozinha, que se abre para um cômodo que muito provavelmente funcionava como sala da família. O posicionamento da cozinha e do banheiro ao fundo atendiam à exigência do Código de Posturas de 1902 de manter as cozinhas “afastadas dos aposentos e estabelecidas de preferência a um anexo ou puxado”. Na mesma direção, o código também exigia que latrinas e banheiros não se conectassem aos aposentos de dormir, nem fossem colocados em posição de difícil ventilação (CÂMARA MUNICIPAL, 1902).