Casa Beschizza & Cia

Vincenzo Lo Giudice foi responsável pela construção de várias obras de importância em Ribeirão Preto e região (LIMA, 2020). Entre elas destacam-se edifícios institucionais, como a Sociedade Recreativa e a Santa Casa de Misericórdia, além de diversas outras para clientes particulares, muitos dos quais compartilhavam de sua origem italiana. Um deles foi Giovanni Beschizza, um dos fundadores da Societá Operaia di Mutuo Soccorso Unione Italiana (FURLANETTO, 2008) e proprietário da Casa Beschizza, também conhecida como Bazar de Giovanni Beschizza. Considerado um dos negócios mais ricos e diversificados de Ribeirão Preto nas primeiras décadas do século XX, a Casa Beschizza entrou em atividade no século anterior, sob a razão social Beschizza e Pieri. O antigo sócio, Pieri, porém, retornou à Itália, deixando Giovanni à frente dos negócios (ROTELLINI, 1906).

“Giovanni Beschizza é o deus ex machina atualmente do grande empório: é ele o ânimo, a vida, porque possui a atividade de um forte trabalhador e as iniciativas e visões amplas do comerciante” (ROTELLINI, 1906, p. 116, tradução livre).

Além da diversidade de produtos, a casa também ficou conhecida pela comercialização de mercadorias a preços modestos, o que conseguia ao importar produtos diretamente dos maiores estabelecimentos italianos (ROTELLINI, 1906). Além do comércio, a Casa Beschizza também prestava serviços tipográficos. Dentre os trabalhos realizados, destaca-se a série de cartões-postais estampados por fotografias de grandes edifícios institucionais de Ribeirão Preto, produzida em 1920. Também realizava serviços de câmbio e possuía uma fábrica de peneiras (ROTELLINI, 1906). Tamanha diversidade levou a Casa Beschizza a obter o diploma de mérito na Exposição Agrícola, Industrial e Artística de Ribeirão Preto, realizada em 1901 (ROTELLINI, 1906).

O prédio sede da Casa Beschizza sofreu diversas reformas e ampliações ao longo do século XX. Em 1912, uma delas ficou a encargo do empreiteiro Vincenzo Lo Giudice. No projeto apresentado para aprovação, consta apenas a fachada principal e uma seção da mesma fachada, indicando se tratar de uma alteração pontual sobre edificação existente. A sequência de portas abrindo-se para a rua é uma característica frequente de projetos comerciais do período e, também, da tipologia edilícia predominante da Rua Saldanha Marinho, historicamente caracterizada pelo intenso fluxo de pessoas e mercadorias, devido à proximidade com o pátio ferroviário da Companhia Mogiana e pela conexão que estabelecia com o antigo Núcleo Colonial Antonio Prado. Giovanni Beschizza, assim como diversos outros imigrantes, soube aproveitar dessa condição e ali fez seu seus negócios prosperarem.

Em 1945, neste mesmo lote, um novo prédio foi construído, dotado de cinco pavimentos erguidos sobre um porão alto.